sábado, 16 de outubro de 2010

nunca, repito nunca

Invadido por um profundo arrependimento, ele parou diante da sua porta de casa. A sua figura baixa mas forte confundia-se com as sombras que se faziam ver por detrás dele; tinha o coração apertado, e com os olhos fechados e sempre pensativo recordou e admirou cada canto da sua paisagem que envolve a sua casa. Velhas recordações se sentiram na pele e de seguida imensos sentimentos lhe invadiram o seu coração. Como se por breves segundos tivesse recuado no tempo - "Passou a ser tudo como ela costumava dizer", voltando assim a ter a oportunidade de sentir a voz dela mermurando aos seus ouvidos. Abriu os olhos, deixou de pensar, saiu de diante da porta e correu, correu para longe, na tentativa de fugir a todos os sentimentos que lhe seguiam para onde quer que ele fosse. Abandonava-os sempre que o arrependimento e a dor lhe davam as mãos. Mas de certo que, o homem tem sempre o lado forte e encara sempre a vida como um desafio, mas nunca, nunca repito, dá o braço a torcer ao que realmente sente. Os seus pensamentos voltaram-se para a mulher que lhe fazia correr nas veias a dor do arrependimento, como se o mata-se cada vez que este se lembrara do amor intenso que viveram juntos embora que por pouco tempo.
Ela ainda o amava, mas deixara de o conhecer, pelo menos da maneira como costumava ser. E ela lhe dizia sempre ao ouvido quando este dormia, pois ela estava mais presente do que ele alguma vez pode imaginar. Pois nunca sentiu-se capaz de o abandonar, em contrapartida este a abandonava cada vez que o seu ego falava mais alto.
Num dia ele acordou e percebeu que nessa noite ela não estivera lá nos seus sonhos, nem mesmo que fosse somente para lhe dizer o quanto cobarde ele tinha sido durante todo aquele tempo. Sentiu remorso intenso, estranho, pois o arrependimento mesclava-se com uma sensação de alívio, como se já não precisasse de provar nada. Não era preciso. Não havia ninguém de quem cuidar, não havia mais ninguem ali a quem se desculpar, apesar de nunca, nunca repito ter se desculpado da dor que lhe causara tantas vezes sem ela o merecer. É claro que ele ainda a amava, mas ninguem o sabia nem ele mesmo se dera conta de tal sentimento. Agora, nada mais lhe restava a não ser recordações.
Doía-lhe o coração por ansiar que as coisas fossem como haviam sido antes. Porém, por mais que o desejasse, não haveria retorno. "O que está feito, feito está."
Respirando fundo, começou a caminhar pelo jardim, repleto de lindas arvores. E a partir do momento em que a primavera chegara, ele obvervara a reacções provenientes dessa estação. Os passaros cantavam, as flores de inumersas cores começaram a crescer, o cheiro a rosas já se sentia no ar e o lindo ceu azul se via sem uma unica nuvem. O tempo passara, mas os sentimentos continuavam ali, sempre de mãos dadas com ele.
Quando os sintomas da dor da ausência que ela lhe provocava se tornavam demasiado difíceis para ele conseguir suportar, vinha até ao jardim para caminhar e reflectir, até o seu espírito acalmar. Então, parava novamente na sua porta de casa, preparado para enfrentar o que quer que lá encontrasse ou recordasse.
E nesse momento, colocou a mão no bolso do seu casaco e sentiu um papel no fundo, retirou-o, estava dobrado em quatro partes. Quando por fim percebeu que não era um papel banal, era uma fotografia dela... Era uma mulher tão bela e esbelta, de cabelo castanho encaracolado, com uns olhos nem escuros, nem claros mas sensuais, que contemplava assim um rosto meigo e ao mesmo tempo misterioso. Permaneceu ali durante algum tempo, observando aquele rosto de feições suaves e airosas, onde um sorriso lhe animava a expressão.
Naquele momento só sentira a necessidade de passar o dedo em torno do seu rosto rosado, na tentativa de que aquela fotografia se tornasse real. Sentiu assim uma infinita tristeza invadi-lo.
"Percebi o que sinto, e agora já é demasiado tarde." Voltou a colocar a fotografia no bolso, e seguiu em frente sem voltar a cair na tentação de olhar para a fotografia. Ela não sabia que ele o amara sempre, nem ele sabia que ela ainda o desejava. Mas como é de se imaginar, ambos erraram enquanto pertenciam um ao outro, mas de certo modo "errar é humano".
Afinal onde estava ele quando ela precisava dele? E porque que ela desistiu quando ele finalmente se apercebeu do erro que cometeu?
Eles não sabem que o sentimento é mutuo nem que, sempre pertenceram um ao outro, mesmo que a distância continuasse a separa-los a cada passo que dessem.
"Nem imaginas o quanto tenho desejado ver-te, preciso que saibas que sempre fui teu." Era o que ecoava na mente dele todas as noites antes de adormecer e todas as manhas ao acordar. Mas ela já havia partido sem intenção de voltar. Uma mulher magoada não olha a meios, não caí novamente no mesmo erro, vai embora e não olha mais para trás. Mas uma mulher que ama, não esquece nada, volta e repete tudo vezes sem conta, luta pelo o que sente.
E ele do outro lado, suspirava e tentava perceber como teria sido a sua vida se nunca tivesse partido primeiro. Então nesse momento tomara consciencia de tudo o que lhe acontecera nos últimos tempos, dos erros que cometera e do amor que perdera por simplesmente ter medo de dar o braço a torcer. E voltou a caminhar pelo jardim, sem nunca, repito nunca ter a força suficiente de dar ouvidos ao seu coração e de partir em busca de um amor supostamente perdido. (...)
Um Homem bem pode sonhar e ter esperança, mas os sonhos não são a realidade e a vida pode deitar-nos abaixo. Eu faço o meu melhor, mas estou presa numa armadilha, e completamente impotente. Se ao menos conseguisse encontrar um modo de mudar o rumo que as coisas tomaram…





 "O arrependimento é a chave que abre qualquer fechadura." 

1 comentário:

Anónimo disse...

Tens um blog muito giro em todos os aspectos. Vou seguir-te :D Se tiveres curiosidade visita também o meu. Beijinhos :P